quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Polícia persegue manifestantes para espancar



Luciana Candido
da redação


• As manifestações contra a 10ª Rodada de Licitações de Blocos para a Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural, nesta quinta-feira, acabaram com uma brutal violência da Polícia Militar e da Guarda Civil no Rio de Janeiro. O saldo foram cerca de 50 feridos e três presos. O protesto era pacífico.

Eduardo Henrique Soares da Costa, diretor do Sindipetro-RJ e militante do PSTU, foi internado às pressas, gravemente ferido com um corte na cabeça. Um militante do MST teve o braço quebrado. Emanuel Cancella, coordenador-geral do Sindipetro-RJ, Gualberto Tinoco “Pitéu”, professor, diretor do Sepe-RJ e militante do PSTU, e Thaigo Lúcio Costa, estudante de jornalismo, estão detidos.

Cancella, que também é advogado, teve um braço e uma costela fraturados. “O Capitão Moreira me deu ordem de prisão, mesmo eu dizendo que era advogado. Ele bateu muito em mim. Algemou o Pitéu e o estudante, e os policiais feriram gravemente nosso companheiro Eduardo Henrique”, conta.

Quanto aos demais feridos, a Agência Petroleira de Notícias informou que as entidades que compõem o Fórum Nacional contra a Privatização do Petróleo e Gás estão fazendo o levantamento do número de feridos. Muitos ainda não foram localizados.



Selvageria

Os manifestantes, que desocuparam o prédio do Edifício Sede da Petrobras na noite de quarta-feira, concentraram-se na Candelária, que fica próxima à Agência Nacional do Petróleo (ANP), responsável pelos leilões. Por volta do meio-dia, saíram em caminhada pela avenida Rio Branco em direção à Cinelândia.

No caminho, pararam em frente ao prédio da ANP para um protesto pacífico. Eles jogaram tinta solúvel vermelha contra a fachada do edifício. Foi então que se surpreenderam com a pancadaria promovida pela polícia, que se seguiu ao longo da caminhada.

Segundo a Agência Petroleira de Notícias, a ordem para a repressão partiu da própria ANP. “Desde a ordem de despejo, vinda da presidência da Petrobrás, ontem à noite, os manifestantes sentiram a animosidade das forças de repressão, mas não esperavam ação tão agressiva contra uma simples manifestação de protesto”, diz nota publicada pela Agência.

Aderson Bussinger, advogado e representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), acompanha o caso e está na delegacia neste momento. Ele informou que as tipificações das prisões foram desacato à autoridade e dano ao patrimônio público. Este último, beira o ridículo. O que os policiais estão chamando de dano ao patrimônio foi o fato de a tinta ter atingido as fardas.

“Com certeza nós, no mínimo, entraremos com uma representação no Ministério Público por abuso de autoridade, contra os policiais, o comando e a Secretaria de Segurança aqui do Rio”, afirmou Bussinger. “Por enquanto, estamos tentando salvar nossos feridos”, disse.

Agora há pouco, foi informado que os detidos poderão ser soltos mediante pagamento de fiança no absurdo valor de R$8.500 cada um. Também acompanham o caso o advogado criminalista do Sepe-RJ, Jorge Bulcão, e um representante do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).



O petróleo é dos trabalhadores

A jornada de protestos contra a entrega da exploração do petróleo para empresas privadas e estrangeiras teve início na segunda-feira, 15, e fazem parte da campanha “O petróleo tem que ser nosso”. Os leilões estavam marcados para os dias 18 e 19 de dezembro.

É um escândalo que o governo Lula continue vendendo as riquezas naturais do país e, ainda, permita este tipo de selvageria contra trabalhadores e estudantes. A situação fica ainda mais vergonhosa quando o diretor-geral da ANP é o suposto comunista Haroldo Lima, do PCdoB.

Os leilões desta quinta e sexta-feira deixarão a exploração do petróleo brasileiro em cerca de 130 blocos nas mãos de empresas privadas. Isso representa cerca de 70 mil quilômetros quadrados em área. Nos últimos anos, o governo federal já entregou aproximadamente 500 blocos para um grupo de 72 empresas.

Além dos petroleiros, a campanha “O petróleo tem que ser nosso” tem o apoio ativo de centenas de entidades e organizações dos movimentos sindical, estudantil e popular. A campanha defende a soberania nacional e exige fim dos leilões e da privatização e o controle estatal e social das reservas de petróleo e gás do Brasil. Junto com os protestos, os sindicatos estão entrando com ações na Justiça para cancelar a 10ª Rodada. Um abaixo-assinado também está circulando entre a população.

Os recursos vindos da exploração de gás e petróleo, bem como de todas as riquezas naturais do país não podem servir para engordar os lucros de uns poucos empresários. Esse recurso é dos trabalhadores e da juventude e tem de ser usado para investimentos em saúde, educação e demais áreas sociais.

Além disso, é necessária e urgente a imediata apuração dos fatos ocorridos hoje no Rio e a punição exemplar aos responsáveis pela agressão aos manifestantes. Segundo os organizadores da campanha, ela vai continuar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Lula explica metaforicamente a base de seus discursos



''Imagine se um de vocês fosse médico e atendesse um paciente doente. O que você falaria para ele? Olha companheiro, você tem um problema, mas a medicina já avançou demais, a ciência já avançou demais, nós vamos dar tal remédio, você vai se recuperar? Ou você diria: meu... Sifu.''

Lula
,admitindo que mente aos trabalhadores, quando fala da situação da economia. O presidente tem dado sucessivas declarações, procurando minimizar o impacto da crise e incentivando a população a consumir, como se estivéssemos em meio a um cenário de crescimento. Assim, o presidente e sindicatos como o dos metalúrgicos do ABC, levam a que os trabalhadores se endividem.
(Folha de S. Paulo - 5/12/2008)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Poema de um Vinícius de Morais engajado



Operário em Construção
(Vinícius de Moraes)

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.

Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.

Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:

Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião

Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?

Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer o tijolo!

E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:

Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.

Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, Cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!

Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.

O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.

Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.

E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que a sua marmita
Era o prato do patrão
Que a sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que o seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que a sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!

E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.

Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
-"Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.

Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
muitas outras seguirão.

Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.

De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:

- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria

E o operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.

Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca da sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?

- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem pelo chão.

E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.

Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão, porém, que fizera
Em operário construído
O operário em construção.


Vinícius de Morais